segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ecos da seca

é aquele velho silêncio fantasmagórico que ecoa no meu peito
ecos de vento desértico de cactos e cariris
silêncio sombrio que atravessa eras e quimeras
com suas sonoridades de flautas, pífanos e caxixis
dos velhos cangaceiros e suas sanfonas
da madeira talhada em planos de cordel
das fitas coloridas ao redor dos braços esperançosos
ventos áridos e secos de chão rachado
a perfurar o solo do coração
é o gado da fome
do mandacaru sem flor
e a saudade arrebatando os tempos que não serão futuro
saudade do que não foi
e em aridez desertina
ouço o triste som do velho tambor
serpentina no meu peito aquela dor calada, emudecida
abafada de porquês
os velhos fantasmas
a velha dor
e de retumbante pavor
me refaço caatinga
e na beira daquele rio da vida
reponho minhas cores estendindas nos varais e matagais
pelas mãos da velha lavadeira
que em seus cantos faz chover flor
minha chita se rebatiza
tilintando nova esperança
esperança simples, calada, certeira
recolho retalhos de cada som
costuro uma saia
e pelo sertão eu vou...

Lívia Nogueira

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