domingo, 31 de outubro de 2010

Cantá

Cantá seja lá cumu fô
Si a dô fô mais grandi que o peito
Cantá bem mais forte qui a dô

Cantá pru mor da aligria
Tomém pru mor da tristeza
Cantano é qui a natureza
Insina os ome a cantá

Cantá sintino sodade
Qui dexa as marca di verga
Di arguém qui os óio num vê
I o coração inda inxerga

Cantá coieno as coieta
Ou qui nem bigorna no maio
Qui canto bão de iscuitá
É o som da minhã di trabaio

Cantá cumu quem dinuncia
A pió injustiça da vida:
A fomi i as panela vazia
Nus lá qui num tem mais cumida

Cantá nossa vida i a roça
Nas quar germina as semente
As qui dão fruto na terra
I as qui dão fruto na gente

Cantá as caboca cum jeito
Cum viola i catiguria
Si elas cantá nu seu peito
Num tem cantá qui alivia

Cantá pru mor dispertá
U amô qui bati i consola
Pontiano dento da gente
Um coração di viola

Cantá cum muntos amigos
Qui a vida canta mió
É im bando qui os passarim
Cantano disperta o só

Cantá, cantá sempri mais:
Di tardi, di noiti i di dia
Cantá, cantá qui a páiz
Carece di mais cantoria

Cantá seja lá cumu fô
Si a dô fô mais grandi qui o peito
Cantá bem mais forti qui a dô

(Gildes Bezerra)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

miudinho

"alegre era a gente viver devagarinho
miudinho
não se importando demais
com coisa nenhuma."



Guimarães Rosa

terça-feira, 19 de outubro de 2010

ventos e cores

mais um ano
vento que sopra a sabedoria dos anos
reinvento-me
em cores e sons
na leveza das eras
na efemeridade constante
do dia que renasce
pra ser vento
moinho de tempo
que pelas mãos oriento
apenas sentir
no bailar de minutares
a essência de ser feliz...

cataventos...
vem
tu.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

vi o lar

viola
violando
vi a lua
via ali
alivia meu coração...
chega tempo de florir
no rastro de sua canção...



sábado, 28 de agosto de 2010

bola de gude

caminhando pela rua
encontrei bola de gude
aquela pequena esfera me fez assobiar
assobiar por lembrar
da esfera feliz
dos olhos do menino
sem camisa, descalço
que sem pensar em mais nada
queria ver aquela bolinha girar
e ali deixou seu brinquedo
pra que hoje de manhã
eu a pudesse encontrar
e pensar que a vida
é coisa de criança
que brinca, que cria
que sonha e sorri
sempre sempre aprendiz
nessa bolinha que gira, gira
sobre uma esfera maior
na órbita da esfera Solar
que alumeia o dia
pro menino brincar
e pra eu assobiar...

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Diário de bordo

lhada...
Aqui não tem banco, não aceitam cartão de crédito e não tem transporte... apenas mar
lá ao longe, no meio do oceano se vê a Pedra da Princesa, que em lua cheia vem tomar banho a espera seu marido...
meu chalé fica a uns 15 mentro do mar...
tanto azul, meu Deus! Quase não cabe em meu olhar...
não precisa de muito esforço pra se encantar.. querer ficar, virar pescadora, marinheira, rendeira, ou simplesmente ficar assim...
quietinha a contemplar...
mas... terei de retornar.. e começa a aventura..
18km de areial sobre uma moto.. terra vermelha que nem a do Cariri, trepidações em todo o percurso. Mais a frente areia frouxa... se existia algo de seguro eram minhas mãos segurando na garupa e minha cabeça dentro do capacete...
aqui ou acolá umas rosinhas amarelas...
e cajueiros me acompanhando por todo o percurso..
ê meu Ceará... quantas histórias traz contigo nessas praias do Rei do Mar...
Fui pra Jijoca e voltei pra Cruz... Cruz azul com o peso do vento norte...
Mais tarde a aventura continua...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

recriar


recriar
a bola vermelha no nariz do palhaço
a companhia ao lado do solitário
o girassol no centro do jardim

recriar
o sorriso no rosto endurecido
uma flor na memória do esquecido
o sonho em campos de jasmim

recriar
o azul no céu do novo pássaro
a esperança nascendo no terraço
novo ar no céu sem fim

quarta-feira, 2 de junho de 2010

E as nuvens?

arte de prender o ar
o que diria os céus
que inspira com o azul do véu
e nos coloca a pensar

o ventos e o ar prender
seriam das nuvens essa condição
de condensar conhecimento
do ar que se faz canção

ou seriam apenas sopros divinos
plumas ou algodão
que paseiam sobre nossas cabeças
trazendo chuva e anunciação

seriam a inspiração
que chega devarinho
pra iluminar os caminhos
recônditos do coração

seriam simplesmente e tão somente
reflexos da iluminação
que surge de fora pra dentro
num momento de concentração

segunda-feira, 31 de maio de 2010

roxo, lilás e violeta

despetalei a velha flor
e o roxo que me ardia
se traduzia em falso amor
lilás
aliás, a dor passou
as pétalas agora secas
dão lugar a vida nova
e no violino
a violeta
faz música doce
com colorido que renova
os pingos de espinhos
são pra marcar os destinos
a estrada em que caminhou
as velhas pétalas são adubo
pra reconhecer a verdadeira flor

sexta-feira, 9 de abril de 2010

céu aberto


abril
e abre-se um novo horizonte
bem-te-vi pela manhã
andorinha ao entardecer
e as asas começam a se abrir
pra vôos maiores
céu acima
rodeada de azuis...
imensidão
em mansidão
mãos se dão...

quarta-feira, 3 de março de 2010

estou de mudança...


Estou de mudança.
Meu pequeno apartamento está quase que intransitável pelas caixas que acumulam meus objetos, meus livros, minhas roupas, minhas lembranças.
Ao encaixotar esses fragmentos de tempos me desfiz de algumas memórias... Joguei no lixo alguns dos objetos que já não tem sentido pra minha caminhada... Percebi que guardo muita coisa que não utilizo. Desfazer-me às vezes causa dor pelo apego ao tempo que aqueles objetos representam, mas arranco-os das prateleiras com lágrimas nos olhos e os destino ao lixo. As lágrimas lavam os espaços vazios e doloridos pelo tempo que passou.
Estou de mudança.
As paredes que estavam impregnadas de sussurros e vozes e choros e sorrisos velhos deixam cair no chão frio, etapas de um processo que já concluiu.
Minha estrada aqui já se findou.
Ainda não saí do apartamento.
Mas a mudança já está acontecendo.
Estou selecionando apenas aquilo que fará sentido pra seguir nessa caminhada. Apenas o irredutível. Quero vida simples e um jarro de flor.
Meus objetos já não têm um lugar certo para estarem. Eu já não tenho um lugar certo pra estar. Sinto que estou por toda parte. Às vezes parece que não fico em lugar algum. Apenas ando...
Trilhando feito andarilha...
Eis meu momento tenda armada/provisória.
Ao mexer nos objetos, vejo sair debaixo do amontoado de livros um eu que nem lembrava. Um eu mais poderoso que se escondia. Um eu que me motiva e que renasce, ao passo que meus velhos eus estão se desmanchando no vento.
Começo a listar num papel um novo traço, um novo caminho, que começa no hoje. O aqui e agora é que ganham importância para minha memória. O renovar, recomeçar, recriar, refazer e assim reafirmar meus passos, meus laços, minha lida, meu jardim.
O que não tem consistência não deve ocupar mais espaço entre o que levo comigo. Porque quero uma casa menos ocupada e sempre preenchida com um vento doce que vem do norte e sussurra sábias palavras na memória do tempo... vento que é boa companhia nesses tempos de calor.. e Sobral está bem quente... precisa-se de ar!
Estou de mudança...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

sina da caatinga


seca a lágrima do olho
ao ver a cor do sertão
ser tão pequenino diante do céu
seu imenso coração amarelo
com veias rachadas das águas do rio
o rio que ria e se vai
e volta na próxima estação
renovando o ciclo cintilante do alvorecer
árvores com seus caules prateados
que se banha das lágrimas do céu
e recolore o brilho nos olhos do sertanejo

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

caminhos

caminhos...
passos de aço
destinos
tinos e tilintares
ares
pequenas dimensões
imensas formações
indo
voltando
indo
apenas horizontes
somente caminhos...